Créditos da Imagem: Sebo e livraria Corujinha
Título:
Os Meus Romanos: Alegrias e Tristezas de uma Educadora Alemã no Brasil
Autora:
Ina von Binzer
Editora:
Paz e Terra
Ano:
1994
Este livro é uma reunião das cartas que
a jovem alemã Ina von Binzer escreve para sua amiga Grete, narrando sua
experiência como professora em alguns domicílios do Brasil em pleno século XIX.
As impressões acerca da escravidão num período pré-abolicionista, da cultura
brasileira, da culinária e outros costumes típicos dos trópicos serão relatados
de forma muito espirituosa pela autora que usa o pseudônimo de Ulla von Eck.
É interessante notar que imagem havia do
Brasil em outros lugares do mundo nesta época tão distante e sem muita
prolixidade já que se trata de cartas para uma amiga íntima, deixando a leitura
bem fluida. Neste trecho, ela fala sobre sua chegada na primeira casa onde irá
trabalhar lecionando piano e francês para os filhos do Dr. Rameiro, numa
fazenda no interior do Rio de Janeiro:
A
segunda desilusão vai ser para vocês minha viagem do Rio de Janeiro até cá: não
lhes poderei contar nenhum assalto dos indígenas e nem mesmo uma luta contra os
tigres, quando no mínimo vocês esperavam uma descrição das cobras gigantes.
Tendo chegado até cá sem incidentes, reconheço de antemão a inferioridade em
que me encontro diante de vocês, comparando-me a outros viajantes dos trópicos.
No decorrer das cartas que datam de 1881
até 1883, ela vai passar por diversas experiências interessantes. Depois que
ela é acometida de uma forte febre na fazenda, muda-se para o Rio, onde se
ocupará num colégio interno de moças e onde se passa um dos episódios mais
engraçados – para o leitor – do livro. O mau cheiro e a desorganização das ruas
da então capital brasileira tiravam a alemã do sério e em um belo dia de
carnaval, enquanto ela vai para o dentista, completamente alheia à bagunça
reservada para tal data nas ruas, é atingida por bisnagas de água e limões de
cheiro. Ela fica indignada com tamanha grosseria.
Em 1882, ela se muda para São Paulo em
busca de uma melhor adaptação. É o que acontece, pois encontra muitos alemães e
agora trabalha na casa do Dr. Costa tutelando seus cinco filhos, todos com
nomes romanos, por quem logo se afeiçoa. Nesta época também conhece um inglês
chamando Mr. Hall por quem demonstra um interesse romântico. Por conta de um
incidente, ela acaba indo para outra fazenda no interior de São Paulo. É o
último lugar de onde escreve, deixando na carta um suspense no ar, fazendo
alusão à sua paquera com Mr. Hall.
Acho que uma professora tão aventureira
nunca imaginou que suas cartas de cunho pessoal, um dia se tornariam
praticamente um documento do Brasil Império e uma obra de grande importância
tanto para a área da História, como Educação e Letras sem falar de quem curte
uma boa narrativa com dose de realidade.
O esforço da elite brasileira para se
assemelhar à Europa é evidente em toda a obra, sem deixar de mostrar a margem
da sociedade, pois o assunto da escravidão e da pobreza também é muito tocado.
No mais, é como se estivéssemos descobrindo uma faceta desconhecida do nosso
país escondida no passado, já que ela descreve com riqueza de detalhes para uma
pessoa que nunca esteve aqui.
Algumas citações:
·
Quem
poderia prever que aqui no Brasil viria a sentir o maior frio da minha vida?
·
Pois
no Brasil quem se revela muito pontual não deve estar regulando bem.
·
Neste país os pretos representam o papel principal;
acho que no fundo são mais senhores do que os escravos dos brasileiros. Todo
trabalho é realizado pelos pretos, toda a riqueza é adquirida por mãos dos
negros.
Ótima resenha! Me identifico com professoras aventureiras! ;)
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