Título: A Estrutura da Bolha de Sabão
Autora: Lygia Fagundes Telles
Editora: Rocco
A mágoa entre uma mãe e uma filha, um
homem que questiona o amigo sobre a misteriosa noite passada, a angústia de uma
menina que descobre ser metade judia no alvorecer da segunda guerra, um rapaz
de vinte anos que almejava a independência mais que tudo, a dançarina de
aluguel que brincava de caçar vaga-lumes, a provocativa luxúria antes de uma
missa, um cara que pinta natureza-morta e foge do sistema, o desejo
interrompido e um ensaio sobre física.
Este livro é a reunião de oito contos da
escritora que foram publicados antes dos anos 70 (com a exceção do conto que dá
nome ao livro e que foi escrito em 1973). Alguns personagens não dão muita
ideia de onde vieram, nem para onde vão. Outros, que já são a própria dor, têm
o poder de envolver o leitor a ponto de também deixa-lo na carne viva.
Para
Falar de Alguns...
Em A
Medalha, Adriana chega em casa muito tarde na véspera do seu casamento e
isso renderia mais uma odiosa discussão com sua mãe. As duas vivem sozinhas e
trocam farpas o tempo todo. Dar a medalha para que a filha use no casamento foi
o último gesto de misericórdia da mãe.
O conto A Confissão de Leontina revela que a menina pobre do interior tem
sim uma subjetividade e não apenas vegeta como requer o estereótipo de mais um
dos tipos excluídos da fatia importante da sociedade:
Entendi
muito bem o que ele quis dizer e tive tanto desgosto que nem sei como pude
calar a boca. Acho que não sou mesmo muito esperta mas sei rir e sei chorar.
Está visto que não é retardada coisa nenhuma quem sabe rir e chorar na hora
certa como eu sei.
No A
Estrutura da Bolha de Sabão, um físico que estuda a estrutura das bolhas de
sabão tem um caso com uma moça, que ele apresenta à sua mulher como amiga. O
narrador-personagem é a amiga que descreve, com aquele olhar detalhado que toda
mulher tem, as crises de ciúme da rival.
Lygia Fagundes Telles faz com um toque
de delicadeza, o desenho de pessoas que são dominadas por suas inseguranças,
desejos, impulsos e amarguras. Uma caricatura do pequeno perverso que há em
cada um de nós. Não é uma violência por esporte, mas que faz o leitor se
encontrar com o que há de mais miserável e frágil em si.
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