quarta-feira, 9 de abril de 2014

Resenha: A Estrutura da Bolha de Sabão




                             
                             Título: A Estrutura da Bolha de Sabão
                             Autora: Lygia Fagundes Telles
Editora: Rocco

A mágoa entre uma mãe e uma filha, um homem que questiona o amigo sobre a misteriosa noite passada, a angústia de uma menina que descobre ser metade judia no alvorecer da segunda guerra, um rapaz de vinte anos que almejava a independência mais que tudo, a dançarina de aluguel que brincava de caçar vaga-lumes, a provocativa luxúria antes de uma missa, um cara que pinta natureza-morta e foge do sistema, o desejo interrompido e um ensaio sobre física.
Este livro é a reunião de oito contos da escritora que foram publicados antes dos anos 70 (com a exceção do conto que dá nome ao livro e que foi escrito em 1973). Alguns personagens não dão muita ideia de onde vieram, nem para onde vão. Outros, que já são a própria dor, têm o poder de envolver o leitor a ponto de também deixa-lo na carne viva.

Para Falar de Alguns...
Em A Medalha, Adriana chega em casa muito tarde na véspera do seu casamento e isso renderia mais uma odiosa discussão com sua mãe. As duas vivem sozinhas e trocam farpas o tempo todo. Dar a medalha para que a filha use no casamento foi o último gesto de misericórdia da mãe.
O conto A Confissão de Leontina revela que a menina pobre do interior tem sim uma subjetividade e não apenas vegeta como requer o estereótipo de mais um dos tipos excluídos da fatia importante da sociedade:
Entendi muito bem o que ele quis dizer e tive tanto desgosto que nem sei como pude calar a boca. Acho que não sou mesmo muito esperta mas sei rir e sei chorar. Está visto que não é retardada coisa nenhuma quem sabe rir e chorar na hora certa como eu sei.
No A Estrutura da Bolha de Sabão, um físico que estuda a estrutura das bolhas de sabão tem um caso com uma moça, que ele apresenta à sua mulher como amiga. O narrador-personagem é a amiga que descreve, com aquele olhar detalhado que toda mulher tem, as crises de ciúme da rival.

Lygia Fagundes Telles faz com um toque de delicadeza, o desenho de pessoas que são dominadas por suas inseguranças, desejos, impulsos e amarguras. Uma caricatura do pequeno perverso que há em cada um de nós. Não é uma violência por esporte, mas que faz o leitor se encontrar com o que há de mais miserável e frágil em si. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário